COP29: Adaptação Climática antirracista já!

Por Amanda da Cruz Costa
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Rede Vozes Negras Pelo Clima, Geledés - Instituto da Mulher Negra, Instituto de Estudos da Religião (ISER), Conectas Direitos Humanos, Associação de Pesquisa e IYaleta convidam governo para dialogar sobre adaptação antirracista na COP 29 - Baku.

Está rolando em Baku a 29a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas na cidade de Baku, em Azerbaijão. 

A COP é formada por diversos espaços, e entre negociações internacionais, apresentação de trabalhos, captação de recursos, esse também é um espaço importante para a disputa de conceitos.

Neste sentido, a Rede Vozes Negras Pelo Clima, Geledés – Instituto da Mulher Negra, ISER, Conectas, Associação de Pesquisa e Yaleta se uniram numa mesa sobre adaptação climática antirracista, convidando a Alice Amorim, Chefe de Assessoria Especial da Assessoria Extraordinária para a COP30 do Governo Federal, para participar do diálogo.

É gata garota climática, foi eita atrás de vixe.

A real é que o conceito de adaptação ainda está em disputa. Espaços como esse se concretizam em oportunidades reais para mostrar a necessidade de incluir o termo raça nos documentos que guiarão a construção de políticas nacionais e internacionais. Desse modo, ter o reconhecimento da necessidade do enfrentamento ao racismo como prioridade das discussões globais é extremamente urgente e necessário.

O “Por uma adaptação antirracista as Mudanças Climáticas” foi mediado por Thales Machado, assessor da Conectas Direitos Humanos. Após fazer algumas considerações iniciais, Thales ou a palavra para Letícia Leobet, assessora internacional do Geledés, que compartilhou as submissões para negociações  climáticas destacando o combate ao racismo, feitas por sua instituição à  UNFCCC (United Nations Framework Combat on Climate Change – Convenção Quadro das Nações Unidas de Combate às Mudanças Climáticas) e ao MRE – Ministério de Relações Exteriores do Brasil.

“Não podemos tratar apenas localmente, o racismo é uma questão global.“ – Letícia Leobet

Em seguida, a Luciana de Oliveira, da Rede Vozes Negras Pelo Clima trouxe suas contribuições para o . Ela, que se auto identifica como uma mulher afro-indígena, iniciou a fala emocionando a todos com um hino de Regência, seu território.

“Se nós fossemos heróis como o Caboclo Bernardo

Que salvou muitas vidas nas ondas do mar sagrado

A sua fama de herói percorreu todo o Brasil

Ele nasceu em Regência e a sua história daqui saiu.”

De acordo com Lu, a liderança vem do povo, do fazer, do território. Ela reafirmou que “nós, mulheres negras, não queremos apenas participar de agendas e ser justificativa para financiamentos. Queremos liderar nossos próprios projetos.” Já Sharah Luciano, coordenadora da formação #BotoFénoClima do Instituto de Estudos da Religião, trouxe a importância de falarmos sobre a intersecção entre a fé e o meio ambiente. De acordo com Sharah, as pessoas pertencentes às comunidades de fé são afetadas duplamente: na dimensão física e na dimensão da sua crença.  Ela disse que “as comunidades de fé são os locais que acolhem quando há um evento climático extremo. Mas quando as comunidades são afetadas pelas suas estruturas, elas também se tornam vulneráveis.” 

Por sua vez, Emanuelle Goes – doutora em saúde pública pela UFBA e coordenadora científica na IYaleta, compartilhou a análise sobre o processo de desigualdade que fundamentou a carbonização do planeta, ressaltando a retroalimentação da  precarização das vidas negras e indígenas.

“A camada de violência se tornará mais densa pelos eventos climáticos extremos. As secas prolongadas do norte e do nordeste, afetarão principalmente as meninas e adolescentes de países do sul global, como Kenia, Filipinas e Brasil.” – Emanuelle Goes – IYaleta

Por fim, Alice Amorim, Chefe de Assessoria Especial da Assessoria Extraordinária para a COP30 do Governo Federal, encerrou a rodada trazendo o avanço da sociedade brasileira na diversificação dos atores que participam da Conferência das Partes. Ela, que já participou de 8 COPs (COP 21 – Paris até COP 29 – Baku) lembrou que a participação dos brasileiros sempre foi muito homogênea: branca e masculina. Desse modo, discutir adaptação climática antirracista neste espaço de incidência internacional já é uma grande evolução.

“Isso me toca muito. E a revolução no caminho que a gente precisa que aconteça. Precisamos saber o que é possível ser feito, como mudar o conceito da adaptação a nível internacional, nacional e local. Pensar numa adaptação climática antirracista precisa ser testado em todos esse níveis.” – Alice Amorim 

Pois é, minha lindeza climática. Apesar dos diversos desafios, estamos avançando. Apenas o ato de fazer uma proposição oficial já começa a moldar o resultado do processo. Agora precisamos pressionar o governo para tirar o conteúdo do papel e trazer a densidade política que o tema demanda. 

Recentemente o governo abriu consulta pública para a NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Vimos que a justiça climática é uma das referencias  do plano de Adaptação do Governo federal, agora nosso grande desafio é transversalizar essa medida para as políticas nacionais, interseccionando diferentes diálogos e assumindo compromissos desde reforma tributária, saúde pública, política educacional à uma adaptação climática antirracista. 

Isso não ocorre da noite para o dia, esse processo é contínuo e constante. No entanto, é essencial trazer a questão antirracista para todas as nossas políticas em formação, como o conceito de adaptação. A partir daí é necessário trazer a dimensão territorial e pensar no nível da comunidade e município. No próximo ano, novos prefeitos e vereadores começarão um novo mandato, mas em que medida a adaptação climática antirracista está colocada como um espaço onde a política pública municipal acontece?
Éeeeeh, cabe a nós refletir, dialogar e pressionar! Todos esses aspectos precisam ser avaliados para que o estado entregue medidas de adaptação antirracistas na prática. Até porque, a disputa por linguagem faz parte das ações necessárias para estabelecer as políticas para aqueles que foram historicamente invisibilizados, empobrecidos e marginalizados.

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Amanda da Cruz Costa

Amanda Costa é ativista climática, jovem embaixadora da ONU, delegada do Brasil no Y20, liderança Forbes #Under30 e fundadora do Perifa Sustentável

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