O título com que a coligação Kick Big Polluter Out, uma coligação de mais de 450 organizações em todo o mundo, divulgou a notícia, deixa clara a extensão do problema: “Os lobistas dos combustíveis fósseis eclipsam as delegações das nações mais vulneráveis ao clima nas negociações climáticas da COP29”.
Pelo segundo ano consecutivo, a coligação de lobistas dos combustíveis fósseis será maior do que a de qualquer outro estado, se excluirmos do cálculo as coligações do estado anfitrião, o Azerbaijão, e os dois países que se preparam para acolher as próximas Conferências, Brasil e Turquia.
Este número, publicado por associações da sociedade civil, tem aumentado progressivamente nos últimos anos, atingindo um pico de pelo menos 2.456 pessoas filiadas às indústrias de petróleo e gás na COP28 no Dubai no ano ado.
De onde vêm os credenciamentos?
Um grande número de lobistas dos combustíveis fósseis teve o à COP como membros de associações comerciais, destes, 8 dos 10 grupos com o maior número de lobistas são do Norte global.
Mas alguns lobistas foram mesmo registados directamente nas delegações nacionais de alguns países, incluindo a Itália, que registou representantes do gigante petrolífero Eni e do gigante energético Enel na sua delegação.
O comunicado de imprensa Kick Big Polluter Out também afirma que para piorar a situação está o facto de: “A Chevron, a ExxonMobil, a BP, a Shell e a Eni, que trouxeram consigo um total de 39 lobistas, também estão ligadas ao genocídio na Palestina, onde estão alimentando a máquina de guerra de Israel.”
Sociedade civil pede regulação de conflitos de interesses
No ano em que as temperaturas globais e as emissões de gases com efeito de estufa bateram recordes anteriores, conforme relatado no comunicado de imprensa, descobriu-se que muitas das maiores empresas de combustíveis fósseis do mundo aprovaram 250 mil milhões de dólares em despesas com petróleo e gás desde a COP28.
O o e o lobby corporativo nas negociações climáticas da ONU não se restringem à indústria de combustíveis fósseis, apesar dos apelos constantes dos países do Sul Global e da sociedade civil. E é disto que a equipa encarregada de liderar a COP deste ano parece estar a tirar partido, como revelou uma investigação secreta da Global Witness: um membro do comité do Azerbaijão ajudou a facilitar as discussões sobre acordos de combustíveis fósseis na COP29.
Isto é precisamente o que tem sido a base para os apelos nos últimos anos para proteger as negociações climáticas da ONU, estabelecendo políticas claras de conflito de interesses e medidas de responsabilização, exigências apoiadas por países que representam coletivamente quase 70% da população mundial.
Exxon não quer que Trump deixe o Acordo de Paris
Talvez a facilidade com que as empresas de combustíveis fósseis conseguem obter a acreditação dos seus lobistas na conferência seja parte da motivação que levou Darren Woods, CEO da Exxon, pedindo a Trump que não abandonasse o Acordo de Paris.
É claro que as suas motivações para esta acção estão longe de ser uma súbita explosão de empatia pelos milhões de pessoas em risco devido aos efeitos da crise climática, causada pelas emissões das suas e de outras grandes empresas de combustíveis fósseis. Woods afirmou, de facto, que Trump deveria, em vez disso, criar incentivos para as empresas de combustíveis fósseis, para que possam (muito lentamente) mudar para energia limpa, continuando a obter lucros enormes.
É mais provável que este pedido se baseie na consciência de que a saída unilateral do Acordo de Paris poderia afetar os próprios lucros das empresas petrolíferas norte-americanas que elas tanto se esforçam por preservar, apesar do imenso custo de vidas humanas. Woods sabe bem disso, é importante estar presente na hora de decidir as regras do jogo.
O abandono do acordo poderia, de facto, significar a exclusão de toda uma série de decisões, dificultando o o às possíveis oportunidades decorrentes da participação no processo de descarbonização, delineado na COP e influenciado pela participação da enorme delegação de lobistas da indústria fóssil.