A data foi estabelecida pela lei nº 11.696 de 2008, e é uma conquista dos movimentos sociais e de direitos humanos de grupos minoritários. O dia rememora o falecimento de Sepé Tiaraju, índio guarani, que foi uma das lideranças indígenas de uma das muitas revoltas contra portugueses e espanhóis, ocorrida em 1756, contra as determinações do Tratado de Madrid, que redesenhou as fronteiras das Américas Portuguesa e Espanhola.
Os indígenas da época não aceitaram a determinação dos colonizadores. Contrariando o que diziam os documentos das potências coloniais, Sepé afirmou em carta à Coroa espanhola a decisão dos indígenas de resistir: “Esta terra tem dono”.
A história de Sepé Tiaraju tornou-se tema literário. Entre as obras é considerada a mais importante “Romance dos Sete Povos das Missões”, de 1975, de Alcy Cheuiche, que retrata a vida do guerreiro indígena brasileiro, cuja figura permanece na história do povo riograndense como um ícone heroico que fez parte da formação da identidade e do território do Rio Grande do Sul.
O Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas remete à conscientização sobre a importância dos debates ligados às pautas dos povos originários, tais como a luta pelo direito à terra e contra a destruição da natureza, assim como questões ligadas à saúde e a educação nas aldeias, além do reconhecimento dos saberes tradicionais, entre outros pontos.
Isso porque a ideia de progresso que vigorou no Brasil desde a Colônia sempre vinculou a noção de “civilizar” a dizimar costumes dos povos tradicionais através da catequese cristã católica, da expansão da monocultura e da indústria. Isso tudo marcou a fundação do Brasil sobre o genocídio das populações indígenas em nome de um progresso que não existe para a maioria da população.
Você sabe quem são e onde vivem os povos indígenas brasileiros?
Habitam o Brasil mais de 300 etnias indígenas, que falam ao menos 274 idiomas. Existem povos aldeados e isolados, mas existem também comunidades que vivem nas cidades.
Essa multiplicidade étnica faz do Brasil um dos países com maior diversidade sociocultural do planeta. O escritor indígena Daniel Munduruku falou sobre essa diversidade em um vídeo especial para o canal do Itaú Cultural no Youtube. Assista:
Desde 2019, o Governo Federal procura impor um projeto que tem como uma das bandeiras e metas não demarcar territórios indígenas, especialmente na Amazônia, desmontar progressivamente órgãos de controle e fiscalização das terras e do meio ambiente, a exemplo do INCRA, ICMBIO, do IBAMA, para garantir, em territórios dos povos indígenas e tradicionais (demarcados ou não), o livre o ao garimpo, às grandes mineradoras, aos fazendeiros plantadores de soja e criadores de gado e madeireiras.
Em 2021, a intensa mobilização pressionou os ministros do Supremo Tribunal Federal, que interrompeu o julgamento da tese do Marco Temporal. A nova data para a retomada das discussões foi marcada para o próximo dia 23 de junho.
No site do Conselho Indígena Missionário – CIMI – foi publicada uma poesia de Roberto Liebgott em homenagem à data e à Sepé Tiaraju:
Sete de fevereiro
Dia de Sepé Tiaraju.
Guerreiro de luz,
clarão das manhãs,
luar das madrugadas,
guerreiro-Xondaro – das memórias que não se esgotam.
Sepé dos sete, setenta, setecentos, de todos os povos originários. Sepé da Terra Sem Males, do Bem Viver, do bem querer e da resistência que não finda.
Sepé dos Mbya, dos Kaiowá, dos Avá Guarani. Um cacique sem trono, herói sem pátria gentil. Líder do chão a ser protegido, de um território que deveria ser livre, sempre amado e sagrado.
Sepé das batalhas adas, atuais e futuras, das lutas que não cessaram, contra o genocídio, o ecocídio e a dizimação.
Sepé sempre a irradiar coragem, pois está lá nas beiras das estradas, nos acampamentos,
entre cercas, asfaltos e áreas degradadas. Tornou-se perene junto aos seus que não pararam de retomar a Mãe Terra.
Sepé que ensina a sermos fortes, corajosos, persistentes e compromissados.
Que ajuda a esperançar diante da morte que se mostra, a cada dia, mais cruel e perversa pelas mãos dos covardes.
Salve, salve fachos do Sol e da Lua! Salve, salve encanto de luz!
Salve, salve Sepé do bravo grito: Alto lá! Esta terra tem dono!
Sepé Tiaraju, presente!

Quer ler mais? Se liga nessas referências
Conheça a história de Sepé Tiaraju, o índio que pode virar santo | GZH
Aventuras na História · Sepé Tiaraju, o chefe indígena que enfrentou portugueses e espanhóis
No Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, escritora macuxi defende que literatura é ativismo
“Essa terra tem dono, foi Ñanderu que a revelou para nosso povo” | Cimi
Uma resposta
Me parece que há necessidade de “reformular” a FUNAI, para que efetivamente atenda às questões Indígenas brasileiras! Sem tal elo, o Brasil corre o risco de drástica diminuição do seu território e termos países vizinhos, recolonizando o vasto território indígena, que começou como parte da Colônia Portuguesa (Brasil) e hoje está presente em vários Estados Brasileiros! Assim como o México que sabe manter e reverenciar a sua ligação com os povos indígenas, deve o Brasil resgatar o entendimento que vai se mantendo nas Constituições: o indio tutelado pelo Estado, com todos os direitos e obrigações das demais Etnias, só que depois que a Pecuária “casou” com a Agricultura, atendendo pelo nome pomposo de “Agronegócio”, o Ecossistema e os Povos Indígenas, estão “pagando por essa fatura”. Quando eu era jovem, ouvia que no “Brasil em se plantando tudo dá”, semana ada ouvi que o Brasil precisa de fertilizantes pelo solo “fraco”!!! Nem o Nordeste, com seu clima “verão o ano todo” impede que haja Estado de lá (me parece a BA) produzindo uva!!!