Entre os caminhos que levam jovens mulheres negras ao mundo do trabalho, a Aprendizagem Profissional se destaca como uma via estratégica de transformação social e econômica. Ao unir formação teórica com prática em empresas, essa política pública não apenas abre portas para o mercado formal, como também atua no enfrentamento da informalidade — um dos efeitos mais persistentes das desigualdades que marcam a trajetória da juventude negra no Brasil. É por isso que ela ocupa um lugar central entre as agendas prioritárias do MUDE com Elas em 2025.
Dados da última Pesquisa Empregabilidade, conduzida pelo Ensino Social Profissionalizante (Espro), reforçam seu impacto: 81% dos jovens seguem ocupados um ano após o fim do contrato e 60% conciliam trabalho com estudo — índice quatro vezes maior que a média nacional. Enquanto 26,4% dos jovens brasileiros não estudam nem trabalham, entre os egressos da aprendizagem esse número cai para 7%. Os dados evidenciam o potencial da política na reversão de desigualdades estruturais, especialmente no enfrentamento da informalidade que afeta a juventude negra.
Para entender as prioridades do governo federal e como o novo de Informações pode fortalecer a articulação entre Estado, empresas e sociedade civil, conversamos com João Victor Motta, Diretor de Políticas de Trabalho para a Juventude no Ministério do Trabalho e Emprego. Confira:
MUDE com Elas: Em abril, o Ministério do Trabalho e Emprego lançou o de Informações de Aprendizagem Profissional. Como essa ferramenta pode ser utilizada por empresas, organizações da sociedade civil e movimentos sociais para promover mais inclusão no mercado de trabalho para a juventude?
João Victor Motta (MTE): O é um avanço estratégico na democratização de dados e no fortalecimento de políticas públicas voltadas à juventude. Ele permite que empresas, organizações da sociedade civil e movimentos sociais em, de forma transparente e atualizada, informações relevantes sobre contratações de aprendizes, perfis regionais e setoriais, e o cumprimento da cota de aprendizagem. Isso possibilita a construção de projetos mais qualificados, baseados em evidências — como cursos de formação alinhados às demandas locais. Em síntese, a ferramenta amplia a capacidade de monitoramento social, fortalece a cobrança por ações concretas e incentiva a participação ativa na implementação da política.
MUDE com Elas: Segundo o Novo Caged, houve um aumento de 20,45% nos novos contratos de aprendizagem entre janeiro e fevereiro de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em fevereiro, o Brasil atingiu 633.720 vínculos ativos — um crescimento de 33,52% em cinco anos. Neste ano em que a Lei da Aprendizagem completa 25 anos, quais são as metas do MTE para ampliar ainda mais esse número? Há estratégias específicas em andamento?
João – MTE: O crescimento expressivo nos contratos demonstra que a política está no caminho certo, mas também reforça a necessidade de consolidar e acelerar esses avanços. Estamos implementando uma estratégia multifacetada. Primeiro, com a ampliação da fiscalização: com a recente nomeação de 900 novos Auditores-Fiscais do Trabalho (AFTs), o MTE fortalece o monitoramento do cumprimento da cota e combate à evasão de vagas. Depois, com a modernização do Catálogo Nacional de Programas de Aprendizagem (CONAP), que a a incluir ocupações estratégicas ligadas à economia verde, digital e à indústria 4.0. E, por fim, com o fortalecimento do diálogo social: estamos consolidando o Fórum Nacional de Aprendizagem Profissional (FNAP) e estimulando os Fóruns Estaduais, criando mais espaços de participação para empregadores, entidades formadoras, sindicatos e movimentos juvenis.
MUDE com Elas: Dados de fevereiro mostram que, entre jovens de 18 a 24 anos, mulheres negras são maioria entre as aprendizes (59,3%), sendo 47,6% pardas. No entanto, a média salarial das jovens brancas ainda é 8% superior. O MTE está atento a essa disparidade racial? Há políticas públicas sendo desenvolvidas para enfrentá-la?
João – MTE: A desigualdade salarial entre jovens negras e brancas é um alerta que reforça a urgência de avançar com políticas que promovam equidade. A inclusão, por si só, não basta: é preciso garantir que essa inclusão seja justa e com oportunidades iguais. Por isso, estamos comprometidos com uma política que não apenas abre portas, mas assegura que elas permaneçam íveis — com qualidade, direitos e remuneração digna. Ainda há um longo caminho a percorrer para democratizar o o à aprendizagem em todos os territórios, com atenção especial às jovens mulheres negras.
MUDE com Elas: Quais os principais benefícios para as empresas ao contratar aprendizes? Existem incentivos específicos ou orientações voltadas à inclusão de jovens mulheres negras nesses programas?
João – MTE: A contratação de aprendizes é uma estratégia que une responsabilidade social e ganhos concretos para as empresas. Permite a formação de talentos alinhados à cultura organizacional, com potencial de efetivação. Além disso, o MTE vem desenvolvendo políticas específicas que incentivam a inclusão de jovens mulheres negras nos programas de aprendizagem, por meio da indução de práticas mais equitativas e da articulação com entidades formadoras comprometidas com a diversidade.
MUDE com Elas: Qual tem sido a participação do ministério na rede multiatores MUDE com Elas? E, na sua visão, de que forma a sociedade civil e os jovens ativistas podem contribuir para fortalecer e ampliar a Lei da Aprendizagem? O MTE está aberto a parcerias nesse sentido?João – MTE: A participação do MTE na Rede MUDE com Elas é estratégica. Acreditamos que reconstruir políticas públicas voltadas à juventude só é possível com a juventude. Por isso, estimulamos a atuação conjunta com a sociedade civil, organizações comunitárias, empresas e movimentos sociais. O diálogo permanente e a escuta ativa são princípios centrais da nossa gestão. Estamos abertos — e empenhados — em construir parcerias que qualifiquem, fortaleçam e ampliem a política de aprendizagem no Brasil.