Apesar dos ataques e da recorrente omissão por parte do Estado, ativistas pelos direitos humanos seguem firmes na luta – por seus ideais e para se manterem vivos
Por Nathalya Roberta Serrão do Nascimento (São Paulo – SP)
Perseguição, tortura, ameaças de estupro e assassinatos são, segundo um relatório feito em 2018 pela ONU, métodos utilizados na intimidação de ativistas de direitos humanos.
São mais de 30 países listados, incluindo Colômbia, Cuba e Venezuela. Denúncias como maus tratos, violação de direitos civis e perseguição online foram incluídas no relatório, redigido por Antônio Guterres, secretário geral da ONU.
Já em 2019, novas ondas de perseguições e violência preocupam ativistas. Na Chechênia, uma das repúblicas da Federação da Rússia, de acordo com informações da Rede LGBT, entidade que protege a comunidade, prisões arbitrárias e torturas estão sendo realizadas contra homossexuais. Em contrapartida, o presidente Vladimir Putin não esboça qualquer reação sobre essas violações de direitos humanos.
Segundo o ativista Igor Kochetov, as organizações que defendem LGBTs estão fazendo de tudo para ajudar as pessoas a saírem de lá, e desde as novas ondas de perseguição, mais de 140 pessoas conseguiram deixar o território, mesmo com a retenção de aportes por parte do governo – que busca dessa maneira dificultar as operações.
Perseguição a ativistas no Brasil
No Brasil, a situação também é bastante delicada, já que de acordo com um relatório feito em 2017 pela Anistia Internacional, o país seria o que mais mata ativistas de direitos humanos das Américas. Ainda tendo como números as informações do relatório, mais de 500 ativistas teriam sido assassinados entre os anos de 2014 e 2017.
Líderes indígenas e trabalhadores rurais estariam entre as principais vítimas desses crimes. Relatos de ativistas que pediram proteção às vítimas foram ignorados pelas autoridades de acordo com Renata Neder, coordenadora de pesquisa e políticas da Anistia Internacional do Brasil. Para ela, o descaso por parte do Estado coloca o defensor em risco evidente, já que a sensação de impunidade em relação a esses crimes só aumenta.
Um exemplo da falta de medidas tomadas em favor da proteção de ativistas pelos direitos humanos ameaçados aconteceu recentemente, quando o até então deputado federal Jean Wyllys – eleito consecutivamente três vezes pelo partido do PSOL – declarou que deixará o país, não cumprindo seu novo mandato, por conta de ameaças que vem recebendo há anos. O político decidiu seguir carreira acadêmica.
Jean Wyllys, nascido em Alagoinhas, Bahia, começou sua carreira política em 2010 ao ser eleito deputado federal do Rio de Janeiro. Único homossexual assumido na câmera dos deputados, propôs em seus oito anos atuando projetos de lei progressistas que visavam ao público LGBT e outros grupos socialmente marginalizados, além de impulsionar discussões sobre temas como a união estável homoafetiva.
Devido ao seu posicionamento declarado, Jean afirma que entre os motivos que o levaram a buscar o exílio, as ameaças de morte e insultos destinados a ele, inclusive do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, que o chamou de “ativista gay com projetos absurdos que não somam nada para que valorize a família”, foram decisivas para a tomada de decisão.
Em seu mais recente post, Jean afirma: “preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outro meio!”
Em resposta, Jair Bolsonaro twitou em sua conta: “Grande Dia”. Infelizmente, para o Brasil esse dia é tudo – menos grande.